Clínicas Recriare | Meu familiar é dependente químico, devo interná-lo?

Devo internar um dependente químico mesmo contra sua vontade?

Uma dúvida muito recorrente que sempre respondemos durante contato:

"Meu familiar é dependente químico e não aceita uma internação. Como devo prosseguir para fazer uma internação mesmo contra sua vontade? Seria mesmo essa a melhor alternativa? Ou será que ele pode adquirir um trauma?

Essas e muitas outras perguntas relacionadas são muito comuns, por isso, resolvemos escrever este artigo a fim de esclarecer o máximo sobre a modalidade internação involuntária.

Antes de tudo, é necessário entender ao certo do que se trata a dependência química. É sabido que a dependência química é um problema de saúde pública, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica e progressiva, ou seja, que piora com o passar do tempo, e primária, que gera outras doenças, além de ser fatal.

A dependência química é um transtorno mental caracterizado por um grupo de sinais e sintomas decorrentes do uso de drogas. Os exemplos mais comuns e fáceis de observar desses sinais e sintomas são: 

• compulsão pelo uso da droga;
• sintomas de abstinência, necessidade de doses crescentes para atingir o mesmo efeito;
• falta de controle sobre a quantidade do uso;
• abandono de outras atividades e manutenção do uso, mesmo tendo prejuízos evidentes causados pela droga.

Segundo médicos especialistas em dependência química, três desses sintomas acima descritos são o suficiente para o diagnóstico.

A dependência química causa diversos prejuízos à vida do dependente. Para o ele, o uso da droga passa a ser o principal objetivo em sua vida, ficando todo o resto, como família, amigos, trabalho e estudos, em segundo plano, explicando assim a dificuldade nos relacionamentos, se manter num emprego, ou ter foco nos estudos.

Ainda segundo a OMS, não existe cura para a dependência química, há um controle da doença com o tratamento, buscando sempre a abstinência total do uso de drogas e álcool. 

Alterações cerebrais causadas pelo abuso de substâncias são, em grande parte, irreversíveis. O cérebro mantém uma espécie de "memória" da droga até o fim da vida, mesmo dependentes químicos em tratamento, livres da droga há vários anos, voltarão ao mesmo padrão de uso anterior, caso voltem a experimentar a droga algum dia. 

Durante a internação em clínicas e centros de reabilitação para dependentes químicos, o foco, além do tratamento dos sintomas, sempre deve ser a busca da abstinência total, ensinando o acolhido todas as consequências do uso abusivo, e como não voltar a experimentar nenhuma droga depois de sua alta.

Como acontece o tratamento em uma internação em clínica de recuperação?

O tratamento realizado em clínicas e centros terapêuticos para recuperação de dependentes químicos é multidisciplinar, e deve envolver sempre, no mínimo, médicos psiquiatras, psicólogos e terapeutas especializados em dependência química, e deve ser feito de forma individual e direta a cada paciente, procurando atender suas necessidades mais diversas durante o período de internação.

O apoio familiar é indispensável no processo de tratamento. A família precisa se envolver e incentivar o dependente na busca pela abstinência, entendendo que é um caminho difícil e tortuoso, onde ele vai enfrentar vários desafios contra si mesmo a cada dia para que não retorne ao uso. Também deve ser entendido que a dependência química é na verdade uma doença, e não um desvio moral do indivíduo, a que todos estamos suscetíveis. Junto ao apoio, também deve haver uma postura firme dos familiares, para não permitir que o paciente os manipule. A busca por esse equilíbrio deve ser constante.

Durante a internação, sendo ela voluntária ou involuntária, as clinicas de recuperação e centros terapêuticos devem oferecer auxilio profissional para o dependente, visando sempre a procura pela abstinência total, para que o acolhido entenda que jamais deve retornar ao uso de drogas, oferecendo atendimento médico psiquiátrico, psicológico e terapêutico constante.

A internação é legal?

Sim, com base em lei federal, a internação em clínica de recuperação é legal e deve ofertar projetos terapêuticos ao usuário ou dependente de drogas que visam à abstinência, deve ser entendida como uma etapa transitória para a reinserção social e econômica do usuário ou dependente de drogas, oferecer ambiente residencial, propício à formação de vínculos, com a convivência entre os pares, atividades práticas de valor educativo e a promoção do desenvolvimento pessoal, vocacionada para acolhimento ao usuário ou dependente de drogas em vulnerabilidade social. Além de oferecer avaliação médica prévia, e elaboração de plano individual de atendimento.

A avaliação da equipe técnica levará em conta o tipo de droga e o padrão de uso, e o risco à saúde física e mental do usuário ou dependente de drogas ou das pessoas com as quais convive.

O Plano Individual de Atendimento, por sua vez, contemplará a participação dos familiares ou responsáveis e deve ser atualizado ao longo das diversas fases de atendimento.

Nossas clínicas e centros terapêuticos para recuperação de dependentes químicos obedecem rigorosamente às leis vigentes, visando sempre a segurança e recuperação de todos os seus acolhidos em primeiro lugar.

Afinal, devo internar o meu familiar mesmo contra sua vontade?

Agora que entendemos que a dependência química é uma doença incurável, primária, que pode ser fatal, e que a internação é legal, mesmo quando contra a vontade do dependente, devemos levar em conta que, na maioria dos casos um dependente químico dificilmente chegará à conclusão de que precisa de ajuda por conta própria. Nesses casos, é um dever daqueles que o rodeiam oferecer alternativas de tratamento, e, mesmo quando estas não forem aceitas, se possível, prosseguir com uma internação involuntária, haja visto que será essa a única maneira viável de que o dependente seja tratado e se liberte de seus vícios.

Talvez a nossa cultura tenha banalizado o processo de internação para dependentes químicos, culpa, em parte de centros terapêuticos que prometem verdadeiros milagres a familiares, que esperam e anseiam por esse milagre. Na verdade, a luta contra a dependência química é bastante árdua, e deve ser encarada como tal, tanto pelo dependente, como por toda a sua família.

Entendemos que a internação é, de fato, a melhor alternativa para aqueles que já esgotaram todas as outras. O familiar deve se sentir tranquilo, e entender que a dependência química é, na verdade um transtorno mental e comportamental e que necessita de cuidados específicos, que serão encontrados em sua totalidade dentro do ambiente terapêutico, além de participar ativamente do seu tratamento. A internação se faz necessária para que o dependente tenha uma oportunidade de retomar a sua vida.

Internação é um ato de carinho, amor e empatia.