Atualizado em: 18/04/2022
Afinal, o que é a cocaína?
A cocaína é um alcaloide derivado das folhas de coca (Erythroxylon coca), planta originária dos altiplanos andinos, localizado no centro-oeste da América do Sul, com efeito estimulante no sistema nervoso central - o que pode causar efeitos como euforia e sensação de "poder" ao usuário. É uma das substâncias psicoativas mais utilizadas no mundo de forma recreacional, mas o uso e a comercialização da droga são proibidos no Brasil.
A droga é encontrada em forma de pó (cloridrato de cocaína), pasta, merla e crack. Todos os tipos causam dependência e são consumidos de formas diferentes.
Para a obtenção da cocaína, algumas etapas são realizadas. De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID), o primeiro passo consiste na maceração das folhas de coca que, quando misturada a determinados produtos químicos como solventes (querosene ou gasolina) e ácido sulfúrico, produz uma pasta de natureza alcalina, denominada pasta base de cocaína.
A pasta da coca é o produto inicial da fase de preparação. Mesmo contendo muitas impurezas tóxicas, os usuários fumam essa pasta em cigarros chamados "basukos".
A merla é um produto grosseiro, obtido também das primeiras fases de separação da cocaína, a partir do processamento das folhas da planta. Tem uma consistência pastosa, cheiro forte e apresenta uma tonalidade que varia do amarelado até o marrom. Ela é fumada por alguns usuários e possui muitas impurezas.
A cocaína, farinha ou pó, conhecida quimicamente como cloridrato de cocaína, é uma substância sob a forma de um sal, solúvel em água e sem presença de impurezas. O uso do pó se dá por aspiração ou de forma injetável. Para aumentar o lucro do tráfico ilegal, alguns fabricantes/fornecedores da droga, muitas vezes, adicionam talco, ácido acetilsalicílico (aspirina), pó de giz, pó de gesso, entre outras substâncias para "aumentar" a quantidade do produto.
O crack é um subproduto da cocaína, ou seja, é o produto final do processamento da substância, contendo cocaína e as impurezas. A pedra é pouco solúvel em água, mas se volatiliza quando aquecida e, portanto, é fumada em cachimbos.
Como a cocaína age no organismo
Os efeitos da droga podem causar certa sensação de prazer ao usuário, estimulando diretamente os sistemas simpático e dopaminérgicos. Mas a duração desses efeitos dependem da via de administração.
A pasta base, a merla e o crack são fumados, utilizando a via pulmonar que absorve rapidamente a substância, fazendo com que ela chegue rapidamente ao cérebro. Os efeitos surgem após cerca de 15 segundos, mas demoram entre 5 e 10 minutos para desaparecerem. Isso faz com que o indivíduo queira repetir a dose.
Por ser uma substância fácil de diluir, a cocaína é administrada de duas formas: pela via endovenosa e intranasal. Quando diluída em água e injetada diretamente na veia, o início da ação acontece dentro de 45 segundos e a duração do efeito é de 10 a 20 minutos. Quando usada pela via intranasal, leva cerca de 180 segundos para surtir efeito, sendo que ele dura aproximadamente 45 minutos até acabar.
Efeitos físicos e psíquicos da cocaína
A substância age como estimulante do sistema nervoso central e, por isso, é capaz de causar diversos efeitos ao usuário.
Os efeitos físicos a curto e longo prazo são:
- Aumento da frequência cardíaca;
- Aumento da temperatura corporal;
- Aumento da frequência respiratória;
- Aumento da transpiração;
- Tremor leve;
- Contrações musculares involuntárias (língua e mandíbula);
- Tiques;
- Dilatação da pupila (midríase);
- Urgência de urinação;
- Hiperglicemia;
- Salivação intensa e com textura grossa;
- Dentes anestesiados.
Enquanto os efeitos psíquicos a curto e longo prazo são:
- Aceleração do pensamento;
- Inquietação psicomotora;
- Aumento do estado de alerta;
- Insônia;
- Inibição do apetite;
- Labilidade do humor;
- Sensação de poder;
- Ausência de medo;
- Ansiedade;
- Agressividade;
- Delírios.
Quais são os riscos do uso da cocaína?
Dentre as principais doenças desenvolvidas com o consumo, estão os transtornos afetivos, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, esquizofrenia, transtornos do déficit de atenção e hiperatividade.
A droga tornou-se um problema de saúde pública justamente pelos efeitos que causam dependência química e riscos à vida do usuário. O uso constante da cocaína em quaisquer das formas anteriormente citadas neste artigo pode resultar em:
- Perda de memória;
- Perda da capacidade de concentração mental;
- Perda da capacidade analítica;
- Alterações estruturais de parênquima pulmonar;
- Destruição do septo nasal;
- Perda de peso;
- Cefaleias;
- Síncopes;
- Distúrbios periféricos;
- Silicose;
- Transtornos psicóticos e de humor.
Dessa forma, o tratamento contra o vício é realizado de forma multidisciplinar com acompanhamento médico e familiar, psicoterapia, terapia ocupacional, entre outras especialidades.
Por que a cocaína causa dependência?
Em busca de "sensações novas" ou até mesmo para se refugiar dos problemas cotidianos, muitas pessoas começam a usar cocaína e seus subprodutos com a falsa ilusão de que isso irá ajudá-la de alguma forma. Mas as chances dessas drogas viciarem no primeiro uso é altíssima - e por isso representam uma grande ameaça para a saúde mental e física.
Como os efeitos da cocaína e derivados surgem e vão embora rapidamente, os usuários costumam repetir com frequência o uso na "sede" de senti-los por mais tempo. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), a merla e o crack, por serem administrados pela via pulmonar e levados diretamente ao cérebro, como dito anteriormente, podem viciar mais rápido do que a cocaína que é "cheirada" ou aplicada na veia.
Mas isso não quer dizer que a cocaína não seja altamente nociva e também viciante. Pelo contrário: quando o corpo começa a eliminar a droga do organismo, o indivíduo passa a demonstrar um comportamento depressivo. Na tentativa de aliviar a ansiedade e tristeza, ele se droga novamente. Ainda segundo o CEBRID, a sensação que o usuário vivencia pode ser "agradável" a ponto de fazê-lo usar a droga inúmeras vezes até acabar seu estoque e o dinheiro para comprá-la. Não é raro, por exemplo, ver casos de pessoas que vendem seus bens para adquirir drogas. Essa compulsão é chamada de "fissura", e é capaz de dominar a pessoa.
Tanto para a cocaína na forma aspirada e injetável quanto para seus subprodutos fumáveis (merla e crack), o mecanismo de ação para a dependência química é sempre o mesmo. Toda experiência que passamos, seja boa ou ruim, é registrada em uma área da memória do cérebro chamada de hipocampo - e nunca mais é apagada, visto que ninguém esquece o gosto de uma comida gostosa ou do chocolate, por exemplo.
O hipocampo é ligado ao sistema límbico do cérebro - área responsável pelo prazer, emoções e comportamentos sociais -, logo, toda vez que o indivíduo faz uso de cocaína ou dos seus subprodutos são liberados grande quantidades de neurotransmissores que proporcionam sensação de bem-estar. O corpo, consequentemente, faz forte associação desta droga com o prazer proporcionado pela mesma, e é aí que o usuário acaba repetindo a dose.
A medida que a exposição às drogas é repetida, o indivíduo adquire duas propriedades que são condições determinantes para se tornar um dependente: tolerância - quando o corpo necessita de doses cada vez maiores para atingir o efeito desejado com a droga -, e abstinência - quando sinais e sintomas surgem e a pessoa passa a sentir a falta da droga em seu organismo. Isso acaba se tornando um ciclo, uma vez que o indivíduo fica cada vez mais tolerante à droga e sente um desejo enorme pela mesma, fazendo-o buscar a experiência da sensação de forma repetida para sanar essa vontade.
O usuário de cocaína pode apresentar alterações comportamentais, físicas e psíquicas, como boca seca, nariz irritado, com coriza e resquícios da droga, além de alucinações e irritabilidade. No caso da merla e do crack, há, ainda, maior preocupação com a perda de peso (entre 8 kg e 10 kg, em média) e também das noções básicas de higiene.
O uso da cocaína com outras drogas
O uso de outras drogas estimulantes pode potencializar o efeito e duração da cocaína. Já drogas depressoras do sistema nervoso central, como é o caso do álcool, diminuem os efeitos indesejáveis da intoxicação da cocaína, fazendo com que o usuário utilize cada vez mais a droga ilícita para atingir o efeito desejado.
Outro complicador do uso concomitante da cocaína com o álcool é a formação de um terceiro composto, de forma endógena. Ou seja, quando o usuário ingere o álcool e a cocaína simultaneamente, o fígado metaboliza os dois e produz o cocaetileno - cujos efeitos são mais extensos e de maior durabilidade que a cocaína utilizada isoladamente. Entretanto, essa junção pode provocar problemas cardíacos e levar até a morte.
O uso da cocaína na gravidez
Quando a cocaína é usada na gravidez, independentemente se for a merla, o crack ou o pó, pode trazer sérios problemas ao feto, causando até mesmo o aborto. Isso porque a droga tem ação tóxica direta no desenvolvimento fetal.
Segundo o OBID, a cocaína estimula o sistema noradrenérgico. Ao ativar esse sistema, além de outros problemas, a frequência cardíaca é aumentada e os vasos sanguíneos são contraídos (vasoconstrição), o que reduz a chegada de oxigênio e nutrientes para a placenta e, por conseguinte, para o feto.
Isso aumenta a chance de aborto, descolamento prematuro de placenta, complicações e malformações fetais, como baixo peso, dificuldades de aprendizado, problemas de visão e audição.
Overdose
A overdose é considerada uma complicação aguda da cocaína e coloca a saúde em grande risco. Essa sobrecarga é definida como a falência de um ou mais órgãos e caracteriza-se por arritmias cardíacas, convulsões epilépticas generalizadas e depressão respiratória com asfixia. A reação depende do organismo de cada indivíduo e da pureza da substância. Os efeitos em altas doses da droga podem causar:
- Convulsões;
- Depressão neuronal;
- Alucinações;
- Paranoia (geralmente reversível);
- Taquicardia;
- Mãos e pés adormecidos;
- Depressão do centro neuronal respiratório;
- Depressão vasomotora;
- Morte.
Como acontece o tratamento da dependência de cocaína
O tratamento deve ser interdisciplinar, dirigido às diversas áreas afetadas: física, psicológica, social, questões legais e qualidade de vida. O objetivo do tratamento é buscar a abstinência e prevenir as recaídas.
A abordagem deve ser interdisciplinar e buscar a desintoxicação, tratamento das comorbidades clínicas e psiquiátricas, contar com estratégias de psicoeducação, abordagens psicoterápicas por profissionais habilitados, terapias individuais e em grupo, terapia cognitiva comportamental, treino de habilidades sociais e prevenção de recaídas, reabilitação neuropsicológica e psicossocial e redução de danos com base em evidências médicas e legais.
Procure ajuda
Se você, ou alguém que você conhece estiver passando por problemas relacionados ao uso da cocaína, é muito importante que procure ajuda especializada imediata. Nossas clínicas de recuperação contam com corpo clínico especializado no tratamento da dependência química da cocaína e outras drogas, contando com equipe de saúde completa, para que o tratamento seja efetivo, buscando sempre a recuperação do indivíduo da melhor maneira possível, com carinho, amor e respeito.
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